Por Carla Helena Lange em 10/03/2022
Tempo de leitura: 8 minutos

CID-10 e CID-11: guia descomplicado para saber as novidades da nova Classificação Internacional de Doenças

Saiba todas as atualizações feitas na Classificação Internacional de Doenças para abranger as mudanças na medicina.
Entenda o que mudou do CID-10 para o CID-11 | MedPlus

A Organização Mundial da Saúde lançou, nos últimos meses, a nova Classificação Internacional de Doenças: a CID-11. A nova CID é totalmente eletrônica e, por isso, ainda mais fácil de usar.

A principal função da CID é ajudar no estudo de doenças, monitorar e padronizar cada uma delas. 

Durante muito tempo, foi comum que houvesse confusão quanto aos nomes das doenças, entretanto, com a CID, a comunicação entre os médicos de diferentes países foi facilitada.

Problemas de tradução, falhas no diagnóstico e outras barreiras devido aos diferentes idiomas foram reduzidos.

Por conta da grande importância desse documento, surgiu a necessidade de ser atualizado para abranger as novas doenças que surgiram. 

Pensando em ajudar você com essas novidades, preparamos este material completo para que saiba tudo sobre as novidades da Nova Classificação Internacional de Doenças.

Aproveite a leitura!

Um panorama da CID

A CID foi criada em 1990, pela Quadragésima Terceira Assembléia de Saúde Mental, e foi adotada pelos membros da OMS em 1994. Ela teve um importante papel na medicina em vários sentidos. 

Em primeiro lugar, podemos observar que ela tornou o atendimento mais certeiro, uma vez que ficou mais fácil para os médicos observarem o histórico do paciente para encontrar o motivo para o problema atual. 

Por consequência, os médicos conseguiram oferecer um atendimento mais humanizado, porque podiam ver o paciente para além do diagnóstico atual.

Leia mais: Como aplicar o atendimento humanizado em sua clínica?

Conhecer o histórico e outras situações que fazem parte do entendimento do problema de maneira integrada, podendo oferecer-lhes uma atenção maior na consulta.

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Por esses motivos é muito importante que a documentação médica sempre esteja com seu CID correto e preenchido, porque essa orientação pode salvar a vida de muitos pacientes.

Além disso, ela deve constar em atestados e guias médicas para agregar mais qualidade nos atendimentos e gerar um histórico da saúde do paciente.

Leia mais: Pacientes pós-pandemia: humanização e tecnologia em foco para melhorar o atendimento nas clínicas médicas

A CID-10 foi aprovada pela Conferência Internacional para a Décima Revisão em 1989, e entrou em vigor em 1º de janeiro de 1993. 

Mesmo sendo um documento extenso, não contemplava as novas doenças que foram descobertas ou surgiram após esse período. 

Por este motivo, em 18 de junho de 2018, foi lançada pela OMS a CID-11, que entrou em vigor em janeiro de 2022. 

Continue a leitura para saber mais sobre a CID-11 e o que mudou na classificação!

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A CID-11 e o porquê foi necessário criar uma nova versão da CID?

A medicina está constantemente passando por transformações. Isto é, surgem novas tecnologias que impactam a vida de médicos e pacientes, tratamentos, orientações de prática médica e também novas doenças. A CID-11 surgiu justamente para abranger importantes mudanças dos últimos anos. 

Além disso, um fator determinante para a decisão por criar uma nova versão da CID é que os países têm liberdade para desenvolver suas próprias adaptações. 

Sem mexer no modelo básico da CID, eles podem adicionar detalhes adaptados à realidade dos seus países. 

Acontece que, quando uma CID já é antiga, como era o caso da CID-10, a OMS perde o controle das adaptações que já existem. 

Disso, surge a necessidade de comparar as versões existentes e criar uma nova versão para redefinir o modelo básico da CID e deixá-lo atualizado.

A CID-11 foi resultado dessa necessidade. Produzida eletronicamente, a classificação deve ser ainda mais acessível para os profissionais de saúde.

É provável também que ela tenha longevidade, uma vez que vai ser ainda mais fácil para a OMS atualizá-la de tempos em tempos. 

Além disso, a CID deve sempre refletir os avanços da tecnologia. A medicina, principalmente desde o início da pandemia, deu um grande passo nessa área. 

Leia mais: Saúde pós-pandemia: as tecnologias que cresceram com a crise e transformaram a gestão médica

A CID-11 vem para abraçar essa inovação também, uma vez que, com ela sendo eletrônica, os prontuários eletrônicos podem ser realizados de forma mais fácil e eficiente. 

O trabalho de elaboração da nova CID levou mais de 10 anos, mas valeu a pena, porque hoje podemos dizer que temos uma ferramenta totalmente eletrônica, projetada para ser utilizada em vários idiomas e com resultados bastante precisos. 

Esse trabalho é fruto da preocupação da Organização Mundial da Saúde, conforme cita Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS: 

“A CID é um produto do qual a OMS realmente se orgulha. Ela nos permite entender muito sobre o que faz as pessoas adoecerem e morrerem e agir para evitar sofrimento e salvar vidas.” 

Agora que você conhece melhor a CID-11 e a importância da elaboração da nova classificação, continue a leitura para saber exatamente o que mudou em relação à CID-10.

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CID-11 já está em vigor: veja o que muda em relação à CID-10

A CID-11 traz atualizações importantes para melhorar a CID-10. Entre essas mudanças, podemos destacar:

Inclusão de transtornos relacionados ao uso excessivo de jogos eletrônicos

Quando a CID-10 foi oficializada, o acesso a computadores e dispositivos móveis estava dando seus primeiros passos. Hoje a realidade é bem diferente. 

É muito difícil encontrar um jovem que não tenha computador pessoal, tablet, smartphone ou qualquer outro aparelho que possa ser utilizado para jogar.

Por isso, a CID-11 inclui transtornos relacionados ao uso excessivo de jogos eletrônicos, também conhecidos como game disorder, que em português significa distúrbio em jogos eletrônicos.

A OMS definiu essa patologia como “Padrão de comportamento persistente ou recorrente”. A Organização também considera uma doença grave, que pode comprometer o indivíduo em vários níveis. 

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Síndrome de Burnout virou doença do trabalho

A CID-11 passou a tratar a Síndrome de Burnout como uma doença de trabalho. Ela determina a doença como “estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso”.

A Síndrome já constava na CID-10. Se você está se perguntando o que muda na prática, vamos a resposta:

No texto anterior, Burnout era considerada um problema de saúde mental. 

Com a Síndrome de Burnout sendo considerada uma doença de trabalho, o efeito será direto em processos trabalhistas e na Justiça do Trabalho, que receberá questões relacionadas ao esgotamento profissional por problemas de gestão da empresa. 

Essa mudança atribui a culpa à empresa, uma vez que a doença é identificada como do trabalho e não do trabalhador. 

Em outras palavras, a CID-11 está afirmando que a culpa pelo estresse mal administrado não é do colaborador ser exigente demais, perfeccionista ou mais propenso ao estresse, mas sim da má organização da empresa quanto à saúde dos trabalhadores.

Havendo laudo médico comprovando Burnout, a justiça poderá responsabilizar a empresa pelo fator que causou a Síndrome no trabalhador. Pode ser assédio moral, metas irreais, cobranças excessivas e outras situações.

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Uso inadequado dos antibióticos gera resistência antimicrobiana

O uso inadequado de medicamentos antibióticos preocupa médicos há um bom tempo. Veja alguns dados de 2021 da ANVISA sobre esse assunto: 

  • 6 milhões de pessoas morrem anualmente por resistência antimicrobiana.
  • A falsificação também é aliada da resistência antimicrobiana. Segundo a OMS, entre 72 mil e 169 mil crianças morrem anualmente de pneumonia devido a antibióticos falsificados.
  • 35% das infecções humanas comuns já são resistentes aos medicamentos atualmente disponíveis. 

Esses dados comprovam que o uso inadequado dos antibióticos ou a produção desses medicamentos falsificados são problemas de saúde pública. 

Por esse motivo, a CID-11 alinha seu texto com a própria OMS, que determinou a resistência antimicrobiana como uma das dez maiores ameaças à saúde pública global. A partir da nova Classificação Internacional de Doenças, é possível mapear esse problema ao redor do mundo com mais facilidade. 

Transexualidade foi reclassificada como incongruência de gênero na CID-11

Outra importante decisão da OMS foi remover da Classificação Internacional de Doenças o que era chamado de “transtorno de identidade de gênero”. O texto anterior, a CID-10, definia a transexualidade como uma doença mental. 

Com a chegada da CID-11, passou a existir um novo capítulo no documento, dedicado especificamente à saúde sexual. Neste capítulo, foi incluída a transexualidade. 

Essa decisão foi muito importante tanto para a saúde pública quanto para os direitos humanos, uma vez que a definição anterior gerava uma percepção errada para muitas pessoas de que diversidade de gênero pode ser uma patologia e, principalmente, feria os direitos de pessoas transexuais.

Certamente, a CID-11 vai colaborar para reduzir o estigma sobre essas pessoas e também garantirá acesso às intervenções que possam vir a ser necessárias.

A nova CID classifica a transexualidade como incongruência de gênero. Isto é, um sentimento de angústia vivido por uma pessoa que não se identifica com seu gênero biológico. 

Espera-se que essa atualização diminua a discriminação e amplie o acesso a vários serviços de saúde pública, como tratamento para HIV, testagem e outros.

Transtornos que fazem parte do espectro autista foram agrupados

A CID-11 reuniu todos os transtornos que fazem parte do espectro autista. Eles são:

  • Autismo infantil
  • Síndrome de Rett
  • Síndrome de Asperger
  • Transtorno desintegrativo da infância
  • Transtorno com hipercinesia

Agora todos esses transtornos estão agrupados em um único diagnóstico: Transtorno do Espectro do Autismo. 

A mudança foi realizada com o principal objetivo de facilitar o diagnóstico. Veja as diferenças: 

Autismo na CID-10

F84 – Transtornos globais do desenvolvimento (TGD)

F84.0 – Autismo infantil;

F84.1 – Autismo atípico;

F84.2 – Síndrome de Rett;

F84.3 – Outro transtorno desintegrativo da infância;

F84.4 – Transtorno com hipercinesia associada a retardo mental e a movimentos estereotipados;

F84.5 – Síndrome de Asperger;

F84.8 – Outros transtornos globais do desenvolvimento;

F84.9 – Transtornos globais não especificados do desenvolvimento.

Autismo na CID-11

6A02 – Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)

6A02.0 – Transtorno do Espectro do Autismo sem deficiência intelectual (DI) e com comprometimento leve ou ausente da linguagem funcional;

6A02.1 – Transtorno do Espectro do Autismo com deficiência intelectual (DI) e com comprometimento leve ou ausente da linguagem funcional;

6A02.2 – Transtorno do Espectro do Autismo sem deficiência intelectual (DI) e com linguagem funcional prejudicada;

6A02.3 – Transtorno do Espectro do Autismo com deficiência intelectual (DI) e com linguagem funcional prejudicada;

6A02.4 – Transtorno do Espectro do Autismo sem deficiência intelectual (DI) e com ausência de linguagem funcional;

6A02.5 – Transtorno do Espectro do Autismo com deficiência intelectual (DI) e com ausência de linguagem funcional;

6A02.Y – Outro Transtorno do Espectro do Autismo especificado;

6A02.Z – Transtorno do Espectro do Autismo, não especificado.

Apesar dessas mudanças, todos os comportamentos que antes faziam parte de cada uma das categorias, ainda fazem parte dos sintomas que os médicos devem observar. 

O que muda agora são as separações, que são avaliadas com base na frequência ou intensidade de cada característica de cada transtorno. 

Nesse sentido, a CID-11 leva em consideração o nível intelectual e a linguagem da criança, se ela tem algum déficit intelectual ou não, se tem algum comprometimento grave ou leve. Já na CID-10, as classificações eram genéricas, o que não permitia um diagnóstico preciso.

Como vimos anteriormente, a CID-11 veio para fazer as atualizações necessárias e também para inovar a prática médica, uma vez que, com ela sendo eletrônica, os prontuários eletrônicos podem ser realizados de forma mais fácil e eficiente. 

Pensando em continuar ajudando você com essas inovações, separamos um eBook completo para te ajudar a ter o ciclo do atendimento totalmente conectado. A prescrição médica digital vai levar mais modernidade para os seus processos e muitos benefícios para a clínica. Confira: 

Analista de Conteúdo

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